segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Seres de Luz




A luz constitui um dos maiores mistérios do universo.
Somente entendendo-a ao mesmo tempo como partícula material
e como onda energética podemos ter uma compreensão
mais ou menos adequada dela.
Hoje sabemos que todos os seres vivos emitem luz,
biofotons, a partir das células da DNA.
Por isso todos irradiam certa aura.
Não é sem razão que a luz
e o sol se tornaram símbolos poderosos
de tudo o que é positivo e vital.
Especialmente o sol irradiante
é visto como o grande arquétipo do herói
e do lutador que vence as trevas com os monstros
que nelas eventualmente se escondem.
Sua aparição a cada manhã não é uma repetição,
mas toda vez uma novidade, pois é sempre diferente.
É um teatro cósmico que começa da cappo,
como se Deus dissesse ao sol a cada manhã:
“Vamos, tente mais uma vez!
Renove teu nascimento!
Irradie tua luz em todas as direções e sobre todos”.
Na maioria dos povos havia o temor de que o sol
talvez pudesse ser tragado pelas trevas
e não voltasse mais a nascer
e a iluminar a Terra e a cada um de nós.
Criaram-se rituais e festas que celebravam
a vitória do Sol sobre as trevas.
Assim, havia a festa romana do Sol Invictus,
do “Sol Invencível”.
Posteriormente, deu origem ao Natal cristão,
a festa do nascimento do Deus encarnado ,
chamado de “o Sol da Justiça”.
As festas juninas com suas fogueiras
têm por detrás a experiência do sol,
pois se inaugura o solstício de inverno.
Fazia-se e faz-se ainda hoje a impressionante experiência
de que o Sol com seus raios de luz,
nasce como uma criança.
Na medida em que sobe no firmamento,
vai crescendo como um adolescente
até chegar à idade adulta ao meio-dia.
Pela tarde vai definhando até ficar velho
e morrer atrás da linha do horizonte.
Mas, passada a noite, ele volta a nascer,
limpo, brilhante, sorridente como uma criança.
Como não celebrá-lo festivamente?
Como não entendê-lo como sinal da Realidade
originadora de todas as coisas?
De fato, ele é uma imagem poderosa de Deus
como o cantou São Francisco em seu “Cântico ao Irmão Sol”.
Nenhuma metáfora da divindade é mais poderosa
que a da luz e a do Sol.
A própria experiência da luz fez surgir a palavra Deus.
Ela deriva de di em sânscrito que signfica brilhar e iluminar.
De di veio “dia” e “Deus”,
como expressão de uma experiência de luz e de iluminação.
Como diz São João: ”Deus é luz” (1Jo 1,5).
“Ele habita”, no dizer de São Paulo “numa luz inacessível”
(1Tim 6,16).
Jesus se auto-apresenta como luz:
“Eu, a luz,
vim ao mundo para que todo aquele
que crê não ande nas trevas”(Jo 12,46)
O Verbo encarnado é “vida e luz dos homens”,
“luz verdadeira que ilumina todo o ser humano
que vem a este mundo”(Jo 1.4.9).
Por isso é com razão apresentado
como “a luz do mundo”(Jo 9,5).
Os que aderem a Cristo como luz devem viver
“como filhos da luz”(Ef 5,8).
E “os frutos da luz é tudo o que é bom,
justo e verdadeiro”(Ef 5,9).
Mais ainda.
Cada seguidor deve ser também “luz do mundo”(Mt 5,14).
Como reza tão bem a liturgia dos funerais:
”Que as almas do fiéis defuntos não tombem nas trevas,
mas que o arcanjo São Miguel, as introduza na luz santa.
Faça brilhar sobre eles a luz perpétua”.
Nós todos somos seres de luz.
Fomos formados originalmente no coração
das grandes estrelas vermelhas,
há bilhões de anos.
Carregamos luz dentro de nós,
no corpo, no coração e na mente.
Especialmente a luz da mente nos permite compreender
os processos da natureza
e penetrar no íntimo das pessoas
até no mistério luminoso de Deus.
Leonardo Boff

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