Apenas Mulher
( Silvia Schmidt )
Ela mal nasce, nem cabelos ainda tem,
Ela mal nasce, nem cabelos ainda tem,
e já lhe arranjam lacinhos coloridos
bem colados à carequinha.
Mulher nasce para ser mais cores
entre todas as cores.
Mulher é arco-íris.
Ela mal cresce, mal "desmama"
as bonequinha se já sai dando colinho
para os colegas da escola,
para o amiguinho tristonho,
para a mamãe carente,
para o papai cansado,
para quem lhe pede abrigo.
Mulher é colo.
Mulher é colo.
Ela adentra a adolescência,
chama a atenção dos meninos,
dos "maduros" sonhadores,
dos passageiros de ônibus,
motoristas,
cobradores e até do irmão mais velho!
Mulher é tentação.
Quando já passa dos 20,
quantas histórias já conta!
Já teve amor malogrado,
já teve o primeiro beijo,
o primeiro namorado,
despedidas,
desencontros,
alegrias inesquecíveis,
sucessos,
também fracassos.
Mulher é novela.
Vai para os 30, 40, 60 ...
não crê que alcança os 80!
Quantos amores!
Quantas marcas!
Uniões, filhos, empregos, patrões
(dentro e fora de casa),
metas alcançadas,
tantos desejos frustrados,
tantas palavras já ditas,
muitos silêncios impostos,
compreensões,
incompreensões,
traições e mil desgostos.
Mulher é história.
E quando ela deixa o mundo,
em algum canto do quarto
acha-se um fio de cabelo,
vê-se uma oração à antiga cabeceira,
ouve-se sua canção favorita,
seu confessor travesseiro
e a mancha da última lágrima.
Mulher é saudade.
Mas ela sempre renascerá
em outras mulheres,
sempre será o que veio para ser,
sempre cumprirá sua missão de Luz
entre os homens,
sempre será apenas e tão somente
o que é.
Apenas e tão somente Mulher...
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