quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Canção na plenitude



Canção na plenitude

Não tenho mais os olhos de menina
nem corpo adolescente,
e a pele translúcida há muito se manchou.
Há rugas onde havia sedas,
sou uma estrutura agrandada pelos anos
e o peso dos fardos bons ou ruins.
(Carreguei muitos com gosto e alguns com rebeldia.)
O que te posso dar é mais que tudo o que perdi:
dou-te os meus ganhos.
A maturidade que consegue rir
quando em outros tempos choraria,
a busca de te agradar quando antigamente quereria apenas ser amada.
Posso dar-te muito mais do que beleza e juventude agora:
esses dourados anos me ensinaram a amar melhor,
com mais paciência e não menos ardor,
a entender - tese precisas,
a aguardar-te quando vais,
a dar-te regaço de amante
e colo de amiga,
e sobretudo força
— que vem do aprendizado.
Isso posso te dar:
um mar antigo e confiável cujas marés
— mesmo se fogem —
retornam,
cujas correntes ocultas não levam destroços
mas o sonho interminável das sereias.
pra todas as mães separadas...

Lya Luft
O texto acima foi extraído do livro "Secreta Mirada"

3 comentários:

Anônimo disse...

Adorei!!! Será que to ficando assim???
Beijão!!!
Oreia

tek@duarte disse...

Adoro Lya Luft, sempre exata com as palavras!!!!! Bjussss

Anônimo disse...

tb adorei
principalmente o final, tão bonito