segunda-feira, 10 de novembro de 2008

"Os voluntários de Obama"


A mensagem de esperança, a aposta na mudança
e o carisma de um homem extraordinário
emocionaram multidões
e conseguiu atrair milhares de voluntários
que tornaram a campanha de Barack Obama
um fenômeno na história política americana
que ainda será analisada por muito tempo.
Num país onde o voto não é obrigatório,
e dia de eleição não é feriado,
americanos ficaram quatro,
cinco horas nas filas para votar.
Votaram e elegeram Obama
– o primeiro negro
a comandar os destino dos Estados Unidos,
onde grupos que defendem a chamada
“supremacia branca”
são inúmeros, agressivamente atuantes,
e onde os negros totalizam apenas 12% da população.
Acompanhei de perto, nestes últimos meses,
como a campanha de Barack Obama alterou para sempre
a forma de se fazer política nesse país,
envolvendo uma legião de voluntários
e utilizando a internet com competência jamais
- vista para arrecadar fundos,
mandar mensagens diárias
para milhões de pessoas e divulgar vídeos.
Pela primeira vez na História das eleições americanas
os democratas tiveram o dobro dos recursos de seus opositores
e 95% desses recursos vieram de pequenas contribuições,
muitas de cinco ou dez dólares feitas pela internet.
O chamado “movimento da base da sociedade”
ou grass roots movement,
envolveu o país numa cruzada cívica
sem precedentes.
A quantidade de voluntários que dedicaram
horas de seus dias
ao trabalho por seu candidato seja nas ruas,
em suas casas, ou nos comitês
distribuídos por todos o estados,
superou as expectativas mais otimistas
dos organizadores da campanha.
Equipes de voluntários, principalmente de jovens,
organizaram-se para telefonar para os eleitores
desenvolvendo os chamados phone banks,
que funcionavam até quinze horas por dia,
em espaço cedido por apoiadores de Obama.
Só na véspera das eleições
foram feitas mais de dois milhões
de ligações em todo os Estados Unidos.
Nos estados onde a disputa estava mais acirrada,
milhares de entusiastas da campanha
bateram de porta em porta
“vendendo” seu candidato,
distribuindo material de divulgação
e anotando os nomes de eleitores,
interessados em votar em Obama,
que precisavam de carona para ir votar
ou de alguém para ficar
com seus filhos pequenos
enquanto votavam.
A estratégia que muitos chamaram de
“recidadanização”
foi também vitoriosa.
Estimulados pela mensagem de mudanças,
milhões de americanos,
principalmente negros e hispânicos,
que jamais se registraram para votar
seja por desencanto com a política,
seja por descrença nos políticos,
seja por não acreditar que seu voto faria diferença,
votaram pela primeira vez.
E votaram majoritariamente em Obama.
Ao longo dos meses, voluntários trabalharam
com algumas metas muito claras:
convencer democratas históricos
de que a campanha não estava ganha
e que cada voto contava;
convencer democratas
que não gostavam muito da idéia
de um negro como presidente de que Obama
era a única opção para mudar o rumo do país;
convencer os chamados independentes,
eleitores sem filiação republicana ou democrata,
de que a crise econômica não poderia ser resolvida
como a continuação da política de Bush,
representada por McCain;
e, finalmente, convencer republicanos frustrados
com a guerra do Iraque
e a excessiva desregulamentação da economia,
de que Obama era a opção adequada
para todos os americanos.
As eleições americanas de 2008
já fizeram história
e quem não acreditou que Obama
e seus voluntários mudariam os rumos do país
se deu mal.
Brasileiros e cariocas
têm muito a aprender com estas eleições.

Julita Lemgruber
* Diretora do Centro de Estudos de Segurança
e Cidadania/CESEC da Universidade Candido Mendes
e professora visitante da Harvard Law School (EUA

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